sexta-feira, 29 de setembro de 2017

Genocídio

Teré (Emmanuel Marinho.)





(crianças batem palmas nos portões) 
Tem pão velho? 
Não, criança 
Tem o pão que o diabo amassou
 Tem sangue de índios nas ruas 
E quando é noite 
A lua geme aflita 
Por seus filhos mortos. 
Tem pão velho? 
Não, criança 
Temos comida farta em nossas mesas 
Abençoada de toalhas de linho, talheres 
Temos mulheres servis, geladeiras 
Automóveis, fogão Mas não temos pão. 
Tem pão? Pão não! 
Tem pão velho? 
Não, criança
Temos asfalto, água encanada 
Supermercados, edifícios 
Temos pátria, pinga, prisões 
Armas e ofícios 
Mas não temos pão. 
Tem pão velho? 
Não, criança 
Temos tudo mas não temos nada que se pareça com pão 
Tem pão velho? 
Não, criança 
Temos mísseis, satélites 
Computadores, radares 
Temos canhões, navios e usinas nucleares 
Mas não temos pão. Tem pão velho? 
Não, criança 
Tem o pão que o diabo amassou 
Tem sangue de índio nas ruas 
E quando é noite 
A lua geme aflita 
Por seus filhos mortos. 
Tem pão? 
Pão não! 
Tem pão velho? 
Tem sua fome travestida de trapos 
Nas calçadas 
Que tragam seus pezinhos 
De anjo faminto e frágil 
Pedindo pão velho pela vida 
Temos luzes em óperas avenidas 
Temos índias suicidas 
Mas não temos pão.

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